Sim, com o especial de sábado passado terminou a minha participação no 5 Para a Meia-Noite.
Porquê?
Para começar, muito sinceramente, porque ia dando cabo da minha sanidade física e mental – e essa parece-me uma excelente razão para parar de fazer alguma coisa, já que o masoquismo nunca foi a minha cena. Ter 44 anos não é ter 24, e fazer um late night a meio da semana, quando acordo todos os dias às 6 da manhã para fazer rádio, começava perigosamente a entrar no domínio do masoquismo.
A sério. Sem exageros, é demolidor. Evidentemente não tão potencialmente demolidor como ser médico nas urgências ou bombeiro ou qualquer outra profissão mais nobre, arriscada, corajosa e necessária do que a minha; mas com a devida relativização – sim, é bastante demolidor.
Não tenho grandes dúvidas que parte considerável dos meus mais recentes cabelos brancos foi a última temporada do 5 que os provocou, pelo que saio com um misto de alívio (as saudades que eu já tinha de ter as noites de quarta-feira para mim e a família!) e, ao mesmo tempo, uma certa sensação de missão cumprida. Acho que com boa parte dos convidados que escolhemos – para conversa e para música – optámos por dar prioridade ao que sentimos que tinha real interesse e valor, não ao que nos poderia trazer audiências a qualquer preço. A RTP sempre apoiou as nossas escolhas e ainda nos deu liberdade para arriscarmos ideias de sketches e momentos ao vivo nunca antes tentadas. Adorei as que funcionaram e adorei as que não funcionaram – porque, mesmo essas, foram tentadas… E perder o medo de tentar e de falhar, é das melhores coisas que se conquista neste ofício.
E saio do 5 porque, entre o que resta de 2015 e o que aí vem de 2016, dois projectos pessoais, dos mais importantes da minha vida, merecem atenção, carinho e tempo. E também que eu esteja acordado para me embrenhar neles.
Um é o filme que escrevi, Refrigerantes e Canções de Amor, uma comédia romântica improvável contendo tudo o que nunca antes foi metido em comédias românticas – incluindo carrinhos de supermercado e dinossauros – e que vai ser realizada pelo Luis Galvão Teles, homem de cuja obra fazem parte Retrato de Família, Elas e Dot.Com. Vou acompanhar de perto todo o processo, desde as últimas afinações do argumento à rodagem, passando pelo casting. E estou em pulgas. Não só para o ver feito e estreado (tudo correndo pelo melhor, estará nos cinemas em 2016), mas para ver aquela história a ganhar vida, dia após dia, cena após cena.
O outro projecto, é o novo programa sobre animais que a querida senhora Ana Galvão e eu faremos para a RTP. Chama-se Animais Anónimos, começa em Setembro na RTP 1 e é uma celebração de todas as razões que nos fazem amar os animais e venerar quem deles cuida e a eles dedica a sua vida seja por voluntariado ou profissão a tempo inteiro. Vai ser um programa de histórias reais, produzido pela Terra Líquida Filmes e realizado com dedicação cinematográfica pelo Ricardo Espírito Santo, cúmplice do casal Galvão-Markl desde que realizou o nosso Felizes Para Sempre para o Canal Q. Vai abrilhantar a vossa hora de almoço de domingo. É para toda a família. E com sorte conseguiremos que todas as famílias percebam o quão errado é abandonar ou maltratar animais e o quão certo é adoptar cães e gatos ou, pelo menos, ajudar quem os salva e deles cuida. Já temos bastante material gravado de que nos orgulhamos, e orgulhamo-nos também do acordo que temos com o extraordinário World Wildlife Fund (WWF), organização que nos cede imagens notáveis e informação que importa conhecer sobre preservação das espécies.
Adorei fazer o 5 Para a Meia-Noite. Mesmo pensando nos abismos de cansaço e desespero a que ele me levou, adorei: adorei o tanto que aprendi, as pessoas que conheci e a sensação de liberdade total para explorar e experimentar. Permitam-me que faça a devida homenagem às pessoas que fizeram parte da escrita, produção e elenco do 5 das 4as ao longo destes últimos anos – Isabel Conceição, Francisco Martiniano Palma, Mafalda Santos, João Pedro Barata, João Troviscal, João Quadros, Ana Markl, Nadili de León, Maria João Rodrigues. Mais os muitos que, não estando no elenco fixo, fizeram uma perninha sempre que era preciso. Obrigado!
E obrigado a todos os que viram os programas e assim me acompanharam nessa aventura. Conto convosco para me acompanharem nas próximas!